Wednesday, March 11, 2009

Resenha da aula de Comunicação e Tecnologia - 10.03.09

A aula começou com um já anunciado debate sobre acontecimentos da atualidade relacionados à base temática da disciplina. Esses debates serão recorrentes, realizados no início de todas as aulas ao longo do semestre.

Na exposição dessa terça-feira, o que iniciou o debate foi uma reflexão sobre o uso das câmeras digitais e sua relação com as sociedades contemporâneas. André Lemos destaca que há, na atualidade, uma potencialização vertiginosa no que diz respeito a produção e distribuição de conteúdos informativos. No caso específico da fotografia, os novos dispositivos de captação de imagem facilitam a produção (portabilidade) e se tornam um vetor de comunicaçao social ligado cada vez mais com a circulação da informação, algo que antes era mais restrito ao ambiente familiar, profissional, etc.

As imagens, que tinha sua produção fortemente ligada a rituais sociais solenes, tornam-se, paulatinamente, descartáveis e efêmeras. Ainda assim, continuam sendo socialmente importantes, atualmente funcionando como vetores sociais.

Flickr
e Youtube são dois exemplos de produções sociais circulando de maneira planetária. A popularidade desses dois sites aponta para a valorização da produção e circulação de imagens de diferentes conteúdos e perspectivas (local, global) em detrimento da qualidade. Passa-se a considerar mais a expressão e as situações representadas do que a perfeição técnica dos produtos midiáticos.

Lemos nota ainda que, embora a questão da portabilidade não seja assim tão nova (as primeiras kodaks portáteis inventadas por George Eastman datam de 1888) a facilidade de distribuição global é algo bastante revolucionário se pensarmos a história dos meios de comunicação, e fala numa fase de meios pós-massivos, caracterizados, a saber, por:
- Liberação da emissão: qualquer um pode pode produzir e publicar conteúdo, o que derruba a lógica de que há poucos emissores e muitos receptores.
- Conexão entre pessoas: além da já citada questão da distribuição, pode-se mencionar também a questão da ubiqüidade ("está em um lugar da rede, está em todo lugar")
- Reconfiguração: Lemos aqui exemplifica com o fato de se poder consumir / produzir breaking news ou micro-contos através do Twitter , inicialmente não pensado para isso.

Ele ainda ressaltou que a "inclusão digital" não significa aumentar o número de pessoas com equipamentos modernos, mas ensiná-las a produzir algo com o que já está disponível através de uma inteligência coletiva.

Lemos atentou para um maior consumo de informações fora dos meios tradicionais e massivos de comunicação.

Outro tema discutido no início da aula foi o desuso do e-mail e o crescimento da utilização das
redes sociais como o próprio Twitter , além de Facebook , Orkut, etc.

Ele ainda falou da "vigilância" e de como as investigações são mais fáceis quando se tem várias pessoas fornecendo suas próprias informações em rede (currículos, gostos pessoais, mensagens compartilhadas, endereço etc).

Texto de Pierre Lévy - "O impacto inexistente da tecnologia"



O segundo momento da aula foi voltado à leitura e discussão do texto, que apresenta perspectivas antropológicas, históricas e filosóficas sobre a questão da técnica. Para Lévy, ainda existe um predomínio da visão de técnica como algo exterior, que causa "impactos" na humanidade (colocada como vítima, "alvo" do impacto). O autor irá criticar e desconstruir essa idéia de técnica como algo externo e mostrar que esse impacto não existe, pois a técnica é, ela própria, imbuída de significado cultural e social; constituinte do animal homem.

"O mundo humano é desde sempre técnico", argumenta Lévy, para quem a distinção entre cultura (dinâmica das representações), sociedade (as pessoas, seus vínculos, suas trocas, suas relações de força) e técnica (os artefatos eficazes) só é possível em termos conceituais, e embora haja instituições que se organizam a partir desse corte conceitual, não se pode determinar os limites reais da cultura, sociedade ou técnica.

Essas reflexões deixam claro que - se partirmos de uma perspectiva que a técnica não é algo natural - não se pode, então, considerar o homem como ser natural, pois nossos costumes sempre estiveram imbuídos de técnicas e nosso estar no mundo se dá através de atos artificiosos. Portanto, somos todos artificiais. Como exemplo, nossa ligação com a terra, tida por muitos como natural, se fixou a partir da necessidade de se criar técnicas de enterro dos mortos. Dessa forma, nossa relação de moldar o mundo (artificial) estabeleceu uma relação que é naturalizada e compartilhada pela humanidade.

Quando fala sobre as cibertecnologias, Lévy ainda argumenta que seu desenvolvimento está sim ligado ao poder econômico e estatal, mas também a projetos de idealizadores e usuários, que buscam aumentar a autonomia dos indivíduos e redobrar suas faculdades cognitivas.

Por fim, "Uma técnica não é boa nem má (depende dos contextos), nem neutra (é condicionante de um leque de possibilidades). Não se trata de avaliar os 'impactos', mas de descobrir o irreversível. E decidir o que faremos com ela.", ou ainda "Por trás das técnicas, no meio delas, agem e reagem idéias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder".

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1 Comments:

Blogger André Lemos said...

Parabéns ao grupo, excelente resenha!
Conversamos mais amanhã,

André Lemos

March 11, 2009 at 6:59 PM  

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