Tuesday, September 28, 2010

Resumo da aula - 23/09

No começo da aula, no momento reservado para comentários sobre notícias relacionadas à disciplina Comunicação e Tecnologia, a aluna Fernanda Aragão fez um comentário sobre uma possível falha no Twitter, possivelmente ocasionada pela invasão de crackers – indivíduos mal intencionados que quebram um sistema de segurança de forma ilegal.

Em seguida, o professor André Lemos comentou o conteúdo de alguns blogs dos grupos (os de Cyberbulling, Mídias Sociais, Jornalismo Online e Mídias Móveis). No blog destinado à discussão do cyberbulling, uma postagem sobre um vídeo de uma adolescente que chorava devido ao cancelamento do show de sua banda favorita, e que repercutiu bastante na internet, levou ao questionamento do que pode ou não ser caracterizado como bulling. Marília Moreira perguntou se podemos considerar bulling casos em que são divulgadas informações constrangedoras sobre a vida de artistas. André Lemos respondeu que esses casos não se enquadram na prática, uma vez que o bulling corresponde a uma determinada faixa etária e os artistas são mesmo vulneráveis a esse tipo de comportamento do público e da imprensa.

O blog “Observando mídias sociais” teve destaque com uma postagem que começava com uma brincadeira sobre a tradução do termo post (bilhete) e com outra postagem, essa um pequeno glossário com termos de ferramentas do Twitter. O blog “Fio pra quê” foi comentado devido a uma postagem com uma piada sobre a comunicação sem fio. E encerrando a parte de observação dos blogs, o HTTPauta noticiou a publicação de um relatório com artigos de 42 pensadores, abordando a transição do jornalismo para plataformas digitais. André Lemos elogiou a postagem e sugeriu que os alunos da disciplina leiam o relatório.

André Lemos, motivado pelo questionamento do prof. José Severino, esboça algumas hipóteses sobre o porquê da versão digital do livro “Leite Derramado” (Chico Buarque) ser mais cara que a versão tradicional (capa dura). Ele diz que os usuários dessas novas plataformas de leitura estão dispostos a pagar preços altos para poder utilizar suas ferramentas, já não têm outra opção: ou pagam ou deixam os aparelhos em desuso.

O texto discutido na aula foi “A alavanca contra-ataca”, do livro de Flusser. A discussão sobre o texto enfatizou uma metáfora que consiste em pensar as máquinas como extensão dos órgãos do corpo humano. Também foi discutido o modo humano de estar no mundo, que seria caracterizado por uma construção datada e por um desenvolvimento técnico-científico e não natural. Esse desenvolvimento possibilitou o acontecimento da 3ª Revolução Industrial, ainda em curso, que pode ser caracterizada pelo investimento e crescimento de áreas como a informática, a biotecnologia, a energia nuclear e que vem ocasionando também a migração dos pólos de investimentos (estes já não estão mais centralizados em uma grande potência, mas em países de diferentes partes do globo). Tal revolução também gerou impactos nos meios de comunicação e, como defende Pierre Levy, o ciberespaço seria uma nova civilização. Ocorreram mudanças significativas no campo da comunicação: houve um deslocamento da comunicação interpessoal, do período pré-industrial, para a comunicação massiva, no período industrial, e, atualmente, percebe-se a existência de mídias pós-massivas. Essas mídias são utilizadas, por exemplo, por movimentos emergentes da cultura popular que se apropriam delas para produzir, divulgar e dar visibilidade a conteúdos que não seriam veiculados pela cobertura midiática.

Foram discutidas as principais diferenças entre a comunicação massiva e a comunicação pós-massiva. A primeira exige maior aplicação de recursos financeiros, enquanto a segunda tem menor custo (embora existam os gastos com os suportes tecnológicos). Observou-se também que o papel desempenhado, geralmente, pelas mídias de massa é o de emitir informações, numa via de mão única na qual não há interação com o receptor. Diante disso, percebe-se que a internet desempenha uma função diferente, pois ela possibilita a comunicação em seu sentido real, o de realizar trocas, interações entre consciências. Por isso, a internet permitiria a construção de uma esfera pública no ambiente virtual. São exemplos dessa situação a utilização do Twitter para discussões sobre temas que interessam a coletividade (a política, por exemplo) e a desconstrução da centralidade na figura do líder de opinião (ideia da teoria Two- Step Flow), pois, através da internet, mais pessoas puderam expressar suas opiniões e tornou-se possível ter acesso à opinião de pessoas de diferentes lugares do mundo.

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Thursday, May 28, 2009

SURPLUS

Surplus, uma produção de 2003 do diretor Erik Gandini, traz a temática do consumismo exacerbado resultante do capitalismo. Inspirado nas radicais idéias do primitivista John Zerzan, o filme se utiliza da linguagem do vídeo clipe com inserção de loops e repetições de frases e palavras para referir-se ao capitalismo, ao mundo da propaganda e do marketing capitalista, fazenda da associação do som e da imagem, um elemento de destaque na abordagem do tema.

Com as idéias de Zerzan, um defensor da idéia de que os problemas da humanidade só serão sanados com a desindustrialização da sociedade e com o abandono da tecnologia, o documentário ironiza os efeitos do consumismo, intercalando a entrevista de Zerzan com a apresentação de outros "personagens". Um americano de classe alta, insatisfeito com a "facilidade" das coisas, uma cubana vislumbrada com o cosumismo europeu e um apaixonado funcionario de uma grande corporação (ridicularizando seu "amor" exacerbado pela empresa), mostrando estes como filhos dos equívocos do sistema. O rítmo construído pela edição de som e imagem acentua ainda mais o tom irônico.

O documentário traz uma idéia anticapitalista bem mais radical do que se costuma ouvir costumeiramente, que apesar de parecer absursda a priori, torna-se interessante pela escolha da linguagem e a ousadia da crítica.

Grupo 2

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Wednesday, May 27, 2009

Resenha: A Poética da repetição em Surplus


Grupo 1

Surplus (2003) é um documentário sueco que coloca em evidência o consumo desenfreado das sociedades capitalistas contemporâneas e os problemas gerados pelo excesso da produção em massa no mundo. Seja pelo viés do capitalismo esmagador americano ou pelo socialismo decadente de Cuba, o vídeo dispara crítcas ácidas às patologias sociais de um mundo pautado pelo poder (seja econômico ou simbólico). Para sustentar um discurso tão inflamado, o documentário se divide em blocos regados por músicas e cenas belíssimas… Como em um videoclipe que martela os ouvidos e olhos de seus espectadores.

Pode-se perceber um forte posicionamento crítico quanto aos usos tecnológicos empregados pelos países capitalistas, visando à propaganda política e o estímulo ao consumo. O consumismo e a busca incessante pelo lucro são representados de tal maneira que o indivíduo é reduzido a ser um funcionário da técnica, sendo que os detentores dos meios - os "developers" comandam de forma verticalizada uma grande massa de trabalhadores. Em analogia à máquina capitalista, é apresentado o caso da Cuba socialista. Para poder condicionar sua população ao regime, Cuba opera de maneira inversa em relação ao consumo, controlando-o, mas também se utiliza de técnicas publicitárias para convencer essa população a aceitar este controle.

A estrutura de videoclipe do filme é utilizada de maneira similar ao retratar o capitalismo norte-americano e o socialismo cubano: duas faces de uma mesma moeda, sociedades controladas por uma minoria poderosa e habitada por uma maioria ignorante e massificada. Marcado pela batida minimalista da música eletrônica, por imagens que se repetem e por diferentes discursos com trechos sincronizados, essa poética do loop (imagens e sons repetidos) hiper-amplia um efeito estético de alienação e amplia a idéia de consumo massivo. As imagens do documentário e a maneira como o áudio se encaixa nelas lembram vagamente trechos da forma como os vídeos usados para lavagem cerebral são retratados em filmes das décadas de setenta e oitenta, e os recursos de montagem criam truques até mesmo engraçados, como fazer Fidel parecer estar dizendo "I love this company", frase anteriormente usada por um outro personagem do documentário num congresso da Microsoft.

Sem dúvida, mais do que qualquer outra coisa no documentário, sua construção enquanto obra audiovisual salta aos olhos do espectador de Surplus. As opiniões defendidas pelo documentário, no entanto, são radicais e deixam de notar nuances sobre a sociedade atual. A questão dos meios técnicos manipulados por um grupo privilegiado de detentores de riquezas deixa de lado as apropriações feitas por indivíduos e agrupamentos sociais. Diversas estratégias políticas desenvolvidas por movimentos minoritários, por exemplo, utilizam da Internet como instância organizadora - através de e-mails e listas - e de visibilidade, com o Youtube, os blogs e as redes sociais. Estas últimas, as redes sociais, devemos lembrar que são mídias pós-massivas que permitem participação do usuário reconfigurando seus limites e oferecendo um amplo leque de possibilidades de uso. Portanto, não se tem um irracinal domínio técnico guiando o destino da humanidade. As tradições, a historicidade que contextualiza o indivíduo, não podem ser descartadas como se houvesse a diminuição da liberdade do indivíduo ao ponto dele praticamente se tornar uma máquina por conta de um suposto "impacto tencnológico" - idéia rejeitada por teóricos contemporâneos como Lévy, para quem a técnica só pode ser separada da cultura ou da sociedade através de uma postura analítica típica da modernidade e, portanto, para quem a noção de "impacto tecnológico"
não faria sentido.

Por fim, merece atenção o destaque dado aos argumentos defendidos por John Zerzan, filósofo e escritor anarquista norte-americano. Zerzan defende que, praticamente, deveríamos voltar a uma fase pré-técnica (um “primitismo”) como se essa fosse a solução para a humanidade e suas patologias socioculturais. Essa idéia partilha de uma visão da técnica como algo externo e dominador na vida humana o que segundo autores como Pierre Levy não seria verdade, pois “o homem é desde sempre técnico,” ou seja, a técnica está intimamente ligada a aspectos sociais e culturais. Segundo Heidegger, o homem é “estranho” à natureza e precisaria “construir para habitar,” logo fica claro como o argumento “anti-técnica” levantado por Zerzan no documentário não se sustenta.

Surplus: Terrorized Into Being Consumers

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Monday, May 4, 2009

Resenha da aula de 28 de abril de 2009

Como de praxe, a aula inicia com discussões sobre temas da atualidade e os posts do blog da turma. O primeiro tema a ser discutido foi um post sobre “vídeos virais”, tomando como exemplo o caso de Susan Boyle que ficou famosa com um vídeo do programa de calouros Britains Got Talent, veiculado no Youtube.

André Lemos aproveitou a deixa sobre disseminação de informações e fez uma relação com a epidemia de gripe suína que vem assolando o mundo. Lemos diz que muito mais que uma epidemia viral, a gripe suína se tornou um gozo da mídia, ou seja, uma espécie de informação viral que se espalha pelo mundo alimentando um pânico sobre o tema.

Logo depois, Lemos comenta sobre uma palestra que aconteceu recentemente, via twitter, com o pesquisador do Instituto Tecnológico de Massachusetts - M.I.T. , Henry Jenkins. Autor do livro A Cultura da Convergência, Jenkins aborda em seu livro como a convergência das tecnologias de comunicação e informação dialogam com a sociedade contemporânea. Lemos faz uma critica ao título do livro, pois, segundo ele, a convergência seria tecnológica e não cultural.

Em seguida, Lemos passa uma entrevista com Henry Jenkins, realizado no programa Milênio, da Globonews. Abaixo, segue os principais pontos abordados no vídeo:

Uma análise da revolução da mídia participativa e as conseqüências para o futuro

a) Os novos criadores da mídia, ao menos nos EUA, tem quase todos menos de 18 anos. 57% dos jovens americanos têm seus próprios blogs, desenham suas páginas na internet, fazem filmes digitais e inventam diversos personagens fictícios em jogos virtuais. Esses jovens estão modificando a cultura do mundo contemporâneo

b) Henry falará no vídeo sobre a revolução da mídia participativa e suas conseqüências. Segundo Jenkins, hoje vivemos em um mundo no qual fazer mídia é tão importante quanto consumir mídia.

c) Jenkins aponta a convergência tecnológica como um processo cultural, referente ao fluxo de imagens, idéias, histórias, sons e relacionamentos através do maior número de canais midiáticos possíveis. Algo que não se restringe às decisões empresariais, perpassa também no dia-a-dia das pessoas.

d) Os meios de comunicação de massa ainda exercem um grande controle sobre a sociedade, mas, ao mesmo tempo, vivemos em um mundo onde praticamente não há filtros de informação, com uma produção colaborativa e interativa por parte da sociedade. São duas visões de mundo, o primeiro quer controle e consumo e o segundo busca uma produção pulverizada de mídia.

e) Nossa atividade em redes sociais ajuda na formação coletiva do conhecimento e na circulação de idéias na sociedade.

f) Sociedade Renascentista X Sociedade convergente – Antigamente, os grandes intelectuais da história dominavam uma grande demanda de conhecimentos de uma sociedade. Hoje, há uma explosão das informações, não é mais possível saber tudo. Vivemos em uma sociedade em rede (network society), ou seja, uma inteligência coletiva a qual “todos sabem alguma coisa”.

g) Atualmente, muitos se sentem inaptos a lidar com o excesso de informações, mas isso ocorre devido à aplicação da lógica do homem renascentista (sabe tudo), quando na verdade esse modelo deve ser coletivo e colaborativo.

h) Cosmopolitismo pop – Os jovens de hoje estão imersos na cultura popular do mndo inteiro. Para eles, os videogames refletem culturas distintas, assim como o cinema para outras gerações.

i) A remixagem pretende estabelecer um diálogo com o passado, ao invés de reivindicar para si a autoria das obras. É um processo de colaboração com a cultura que nos cerca. Um dos problemas de hoje é que as leis autorais inibem a cultura, restringindo o uso das obras aos seus proprietários. Numa época onde cada vez mais pessoas produzem mídia, as empresas e os jovens estão confusos sobre os limites éticos.

j) Creative Commons – Permite que artistas determinem quais direitos querem manter e quais querem liberar, baseado em um modelo de economia moral. Ainda nos vemos impedidos de usar essa estrutura aberta devido o embate com a grande mídia.

l) Jenkins afirma que não acredita no fim das mídias tradicionais e nos meios de comunicação de massa. Televisão, cinema e jornais continuarão a funcionar na sociedade, mas dentro de um contexto em que existem outras opções para comportamentos mais participativos.

Após o vídeo de Henry Jenkins, o Grupo 1 deu início à apresentação do texto de Francisco Rüdiger, “A Escola de Frankfurt”, presente no livro “Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e tendências”.

A Escola de Frankfurt, por Franciso Rüdiger.

1. Dialética do Iluminismo e indústria cultural

O conceito de Indústria Cultural - hoje tão corrente em Escolas de Comunicação e pelos herdeiros do pensamento frankfurtiano - foi inaugurado por Adorno e Horkheimer na obra A Dialética do Iluminismo. Não é possível, porém, compreender completamente as idéias enunciadas pelos dois sem uma preliminar contextualização de quando foi proposto o conceito. A U.R.S.S. tinha se burocratizado e os problemas do estalinismo decepcionavam os marxistas por toda a Europa, que por sua vez era assolada por regimes totalitários de ultra-direita. Refugiados nos EUA, os autores d'A Dialética do Iluminismo começavam a perceber que em regimes democráticos também se faziam presentes tendências totalitárias. No campo cultural norte-americano, na época, explorava-se massivamente as estrelas do jazz e a Era de Ouro de Hollywood ainda estourava com suas super-produções, e os desenhos animados da Disney circulavam nos cinemas.

Tendo em vista esse contexto, Adorno e Horkheimer, referindo-se às sociedades capitalistas avançadas, defendem - enuncia Rudiger - que "a população é mobilizada a se engajar nas tarefas necessárias à manutenção do sistema econômico e social através do consumo estético massificado, articulado pela indústria cultural. As tendências à crise sistêmica e deserção individual são combatidas, dentre outros meios, através da exploração mercantil da cultura e dos processos de formação de consciência".

Mais tarde, Rudiger fala que é preciso entender o que os autores nomeiam "Dialética do Iluminismo", e escreve que esse conceito refere-se ao projeto moderno de criar a idéia dos seres humanos como livres e distintos (mitos da liberdade individual e do sujeito centrado do pensamento cartesiano). Embora esse mito tenha ajudado a burguesia ascendente a se libertar de opressões seculares - Igreja, Estado absolutista, etc. - criou uma série de novas sujeições e patologias culturais. "A figura da Indústria Cultural é, segundo os pensadores, uma prova disso, de como os meios do Iluminismo progressista podem, no limite, se transformar em expressões da barbárie tecnológica".

Por aqui, embora Rudiger não o faça, é preciso se deter em dois aspectos. Primeiro, o que os frankfurtianos falam acerca do projeto Iluminista e do sujeito cartesiano. Aqui, um pensamento muito sofisticado, que vai ser desenvolvido pelos pós-estruturalistas e pelos Estudos Culturais, já é "pincelado". O segundo aspecto é a forma como especificamente Adorno e Horkheimer encaram a questão da técnica. Num trecho destacado por Rudiger de "A Dialética do Iluminismo", lê-se "O indivíduo se vê completamente anulado em face dos poderes econômicos. Ao mesmo tempo, estes elevam o poder da sociedade sobre a natureza a um nível jamais imaginado. Desaparecendo diante do aparelho* a que serve o indivíduo se vê, ao mesmo tempo, melhor do que nunca provido por ele". É importante ressaltar que num ensaio escrito antes de "A Dialética do Iluminismo", Walter Benjamin encara a técnica de uma outra forma, menos apocalíptica e mais integrada ao ser humano, sugerindo que os desenvolvimentos técnicos alcançados pela Indústria Cultural podem ser reapropriados e utilizados para a libertação das massas.

* Quando aparece anteriormente no mesmo trecho, a palavra "aparelho" é seguida da palavra "técnico".

2. A obra de arte na era da técnica

Walter Benjamin e Siegfried Kracauer nunca chegaram a ocupar efetivamente o olho do furacão teórico da Escola de Frankfurt. No entanto, seus trabalhos acadêmicos em tecnologia e arte contribuíram significativamente para o projeto central daquela Escola que propunha a formulação de uma teoria crítica geral sobre a sociedade. Para eles, o avanço tecnológico, sobretudo em sua dimensão comunicacional, inaugurou um processo de democratização da cultura. As novas tecnologias de então, a exemplo do cinema e do rádio, permitiram que a lógica fordista de produção industrial interferisse na forma com que os bens culturais eram produzidos e consumidos. Em seu ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, Benjamin considera que o avanço tecnológico das comunicações permitiu que a arte e a cultura extrapolassem seus limites físicos tradicionais, a exemplo da música que não mais estaria fadada à claustrofobia dos concertos em grandes teatros porque agora poderia alcançar o cotidiano das pessoas através de transmissões radiofônicas ou gravações em discos. Assim, os processos produtivos de arte e cultura sofreram tamanha dinamização que permitiram o alcance dos bens culturais para além do domínio burguês e possibilitaram também a distribuição dos mesmos para os grupos sociais de camadas mais populares. Segundo Benjamin e Kracauer, a democratização do acesso à arte permitiria o avanço do projeto revolucionário à medida que as próprias experiências estéticas, agora longe do monopólio da alta cultura, contribuiriam para o melhoramento espiritual e intelectual das massas. O próximo passo para a revolução teria como empreendimento a desapropriação desses meios que sempre estiveram sob controle burguês e a progressiva ocupação de seus comandos pelas massas. Por outro lado, as colocações de Benjamin e Kracauer, quando submetidas às ponderações críticas de Adorno, parecem padecer de um otimismo ingênuo e pueril. Para ele, não bastaria apenas conceder às massas o domínio sobre os meios de produção cultural porque as carências desses grupos ultrapassariam a dimensão instrumentalista. Segundo Rüdiger, Adorno acreditava que esses próprios meios impediriam o processo revolucionário “por terem sido colocados a serviço de uma indústria cultural que já havia se convertido em sistema”.


3. Indústria Cultural e teoria crítica da sociedade

Escola de Frankfurt foi o nome dado ao coletivo de pensadores alemães que desenvolveram pesquisas na área de cultura e comunicação. Os principais nomes dessa escola são Erich Fromm, Herbert Marcuse e Theodor Adorno e Max Horkheimer, criadores do conceito de indústrica cultural. Estes pensadores pretendiam criar uma "teoria geral da ação comunicativa", apesar de nenhum deles pertencer ao campo da comunicação. A Escola de Frankfurt unia pensadores que tinham o intuito de elaborar uma teoria crítica da sociedade. Para tal, eles utilizavam teses de Marx, Freud e Nietzsche e recriavam suas idéias para entender a nova realidade surgida no início do século XX, que englobava a relação da cultura com a sociedade e a economia.

Nas primeiras décadas do século XX os Frankfurtianos utilizaram o termo "indústria cultural" para se referir ao fato de a cultura estar subordinada à racionalidade capitalista. De acordo com Horkheimer, Adorno entre outros, a indústria cultural era uma prática social em que a produção cultural e intelectual estavam diretamente a serviço da possibilidade de consumo e de mercado. Para eles, a produção estética estava totalmente integrada à produção mercantil, graças ao poder das tecnologias de reprodução e difusão de bens culturais. Desse modo, empresas de comunicação tomavam o lugar da escola, da família e da religião como formadoras da moral e dos valores. Os frankfurtianos consideravam esse fator prejudicial, pois, a cultura de mercado misturava as qualidades das obras artísticas e as nivelava de acordo com um padrão de gosto bem-sucedido para que isso fosse vendido cada vez mais. Ao fim do texto, fica clara a releitura dos escritos da Escola de Frankfurt, que reconhece a preocupação central dos pensadores no sentido de problematizar a existência dos meios de comunicação, sem necessariamente condenar a tecnologia e a facilidade do uso e exploração das obras de arte.


4. A colonização da esfera pública

Habermas, considerado um frankfurtiano da segunda geração, parte dos conceitos desenvolvidos pelos teóricos da primeira geração e os aplica para compreender o desinteresse crescente da sociedade pela política. Ele compreende, segundo Rudiger, que "a cultura de mercado, embora pretenda ser apolítica, representa ela mesma uma forma de controle social ou mando organizacional". Rudiger, ainda falando de Habermas, diz que "Para ele, de fato, a crescente apatia ou desinteresse da população para com a ação política, senão pela própria vida democrática, é correlata à destruição da cultura como processo de formação libertador e de liberação de potenciais cognitivos que tem lugar na era da sua conversão em mercadoria".

Habermas desenvolve em seu "Mudança estrutural da esfera pública" a tese de que a economia de mercado fez ascender a imprensa, criando um espaço público essencialmente marcado pela circulação da mídia impressa, permitindo à burguesia libertar-se de certas opressões seculares - Estado, Igreja, etc. - mas que a cultura econômica a partir do final do século XIX foi rompendo o equilíbrio que sustentava tal modo de sociabilidade justamente pela "privatização" do que sustentava essa esfera pública - a circulação de mídias. Habermas diz que, assim, a figura do cidadão foi reduzida, eclipsada frente à do consumidor, e a política se tornou objeto de espetacularização. Isso tanto em estados totalitários quanto em estados democráticos de massas, teoriza Habermas.

5. Comunicação e sociedade

Nesse contexto histórico, o avanço tecnológico dos meios de comunicação veio acompanhado de uma revolução informacional. Conteúdos referentes às mais diversas esferas do conhecimento passaram a estar disponíveis em suportes próprios de meios mais democráticos de distribuição. O cinema e o rádio – mais tarde o próprio aparelho de tevê – contribuíram para que o acúmulo vertiginoso de informação fizesse com que o homem ultrapasse os limites saudáveis do esclarecimento. Segundo Rüdiger, “as pessoas sempre sabem mais do que acontece à sua volta e, tornadas realistas pela disponibilidade de informação, crêem cada vez menos nas idéias”. É através da racionalidade e do utilitarismo, pilares da vida moderna eleitos pelo modelo econômico capitalista, que os meios de comunicação denunciam sua influência de mão dupla: à medida que contribuem para o enriquecimento intelectual do indivíduo, oferece o entretenimento vicioso que ocupa o vazio existencial da modernidade. Assim, concentrar o foco de estudo na forma com a qual os meios de comunicação de massa participam dos momentos de lazer e entretenimento do homem moderno foi mais importante para a Escola de Frankfurt do que talvez se preocupar com o conteúdo programático das atrações veiculadas pelos mass media. A indústria cultural, para além de incutir idéias e ideologias na mente do indivíduo, aproveita-se de necessidades e carências, sofridas por ele, de ordem sócio-histórica. Afinal, como acentua Rüdiger, “a prática da industrial cultural segue a linha da menor resistência, não deseja mudar as pessoas: desenvolve-se com base nos mecanismos de oferta e procura”.

6. Observações finais

Lahire, falando sobre o pensamento de Bourdieu, diz que para além de uma aderência fanática a uma sociologia ou repulsa com relação a ela, é preciso fazer revisões críticas. Rudiger conclui enunciando algo semelhante acerca dos frankfurtianos. Para além da crítica a uma postura apocalíptica, é preciso revisar suas teorias e fazer prolongamentos críticos.


GRUPO 1

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Wednesday, March 18, 2009

Resenha da aula - Comunicação e Tecnologia 17/03/09

A aula teve início com a discussão sobre o fechamento, por força judicial e por ação da APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música), da comunidade virtual que “fornecia” links para baixar musicas na internet. Essa noticia levou a discussão sobre as questões dos direitos autorais, dos limites deste em relação a circulação de idéias e bens culturais, além da constatação da crise evidente do sistema de copyright. Sobre esse assunto o professor sugeriu a leitura do livro “Free Culture” de L.Lessing. CLIQUE AQUI PARA VER A MATÉRIA DA FOLHA ONLINE.

Após isso, retomou-se a discussão sobre a dimensão etnozoologica da tekhné, inspirada na teoria da evolução de Bergson, que fala da história da técnica aliada ao desenvolvimento da espécie humana. Vimos que a partir da corticalização do homem, do posicionamento ereto e com a liberdade das mãos, juntamente com a formação do pensamento mítico religioso forma-se o home sapiens. Como conseqüência de certa exteriorização (a criação de objetos e de técnicas primitivas), tem-se o surgimento da fala, como mais uma etapa da evolução humana.

Assim têm-se os dois fatores que demarcam a diferença decisiva do homem em relação aos outros animais: a técnica e a comunicação - que se expressam no ser humano de maneira progressiva e acumulativa, diferentemente dos outros animais.

Neste ponto Lemos vai apontar para duas dimensões da produção artificiosa do homem: uma que estaria num sentido vertical, que seria a dimensão temporal e a outra no sentido horizontal, a dimensão espacial.

A produção artificiosa do mundo pelo homem inicia-se primeiramente no embate com a natureza, através da tentativa e erro - quando a técnica é ainda considerada primitiva - depois, a partir de uma cientificização da técnica - onde nasce a tecnologia - e onde emerge também uma relação de dominação do homem sobre a natureza.

A partir da observação desta relação, Heidegger constata que o ser humano é “estranho” a natureza e precisa transformar para habitar. No entanto ele demonstra como a partir do século XVI, o surgimento da ciência e do racionalismo demarca a mudança das técnicas primitivas para a técnica moderna e através de uma dessacralização da natureza o que a torna objeto de exploração. Marcando o deslocamento de uma estrutura onto-teológica (ordem divina) para uma estrutura onto-antrotológica (razão científica).

A perseguição da humanidade é dividida em três áreas: Artifício, Informação e Liberdade de movimento informacional e físico. É dessa observação que Heidegger vai criar o conceito de Gestell através do qual ele aponta para o perigo (destino) que ele visualizava na análise das tecnologias modernas, com o comportamento provocativo assumido pelo homem em relação a natureza.

Já Simondon, outro pensador da história da técnica, em seu livro “O Modo de Existência dos Objetos Técnicos”, vai dizer que o perigo está em pensar a técnica como alheia a sociedade, dando a ela um caráter autônomo e isolado da vida social e da história do homem. Simondon vem dizer que a técnica deve ser pensada como parte integrante da nossa cultura.

Depois o professor fez a leitura de um texto de Milton Vargas, onde ele apresenta a evolução da técnica.

Em seguida, tivemos a apresentação do grupo sobre o texto de André Lemos, que iniciou-se com uma explicação introdutória do livro e de sua tese central, que pretende mostrar a cibercultura como produto da sociabilidade contemporânea aliada às novas tecnologias, mostrando importância de se perceber a profundidade da ligação entre a cultura e a tecnologia.

Aprofundando no texto, foram expostas, novamente, as definições de tekhnè (o saber fazer prático), phusis (princípio de geração das coisas naturais) e poièsis (processo de vir a ser). Foi colocado, juntamente com esses conceitos-chave, o pensamento da corrente grega que influencia a visão sobre a tecnologia até os dias de hoje. Esta corrente coloca em oposição, a partir de Platão, a teckné e o saber teórico; e com Aristóteles o primeiro conceito é subjugado em relação ao segundo - um modelo que marca a visão sobre a técnica até os dias atuais.

A perspectiva etnozoológica é novamente colocada em pauta.

E por fim, com a ajuda do professor, fez-se uma breve explanação das teorias de Simmondon (a teoria genealógica) sobre a gênese da técnica. Esta teoria descreve um primeiro momento da existência do homem no mundo, o qual ele chama de fase mágica, caracterizada como pré técnica e pré religiosa, onde não há distinção entre sujeito e objeto. A evolução desta, desencadearia uma bifurcação a partir da distinção entre figura (objeto) e fundo (religiosidade). A evolução da figura e dos objetos desencadeou a criação da técnica e da ciência, enquanto o fundo propiciou a criação das religiões e da ética. Para Simondon a ESTÉTICA é aquilo que efetua as formas de convergência desses dois modos surgidos a partir da fase mágica.

Abaixo segue um vídeo, produzido por alunos Colégio Greção, que a equipe exibirá na próxima aula, para aqueles que não consigam ver aqui.

O vídeo mostra como a técnica desempenha um papel fundamental na formação do homem. A evolução da técnica que influencia a evolução da espécie.

O mesmo grupo continuará a discussão na próxima aula, fechando com os conceitos ainda não discutidos.





>Postado pelo GRUPO 2: Maurício Lídio, Mirnah Leite, Viviane Vergasta, Jamile Santos e Juscimar Coutinho.


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Wednesday, March 11, 2009

Resenha da aula de Comunicação e Tecnologia - 10.03.09

A aula começou com um já anunciado debate sobre acontecimentos da atualidade relacionados à base temática da disciplina. Esses debates serão recorrentes, realizados no início de todas as aulas ao longo do semestre.

Na exposição dessa terça-feira, o que iniciou o debate foi uma reflexão sobre o uso das câmeras digitais e sua relação com as sociedades contemporâneas. André Lemos destaca que há, na atualidade, uma potencialização vertiginosa no que diz respeito a produção e distribuição de conteúdos informativos. No caso específico da fotografia, os novos dispositivos de captação de imagem facilitam a produção (portabilidade) e se tornam um vetor de comunicaçao social ligado cada vez mais com a circulação da informação, algo que antes era mais restrito ao ambiente familiar, profissional, etc.

As imagens, que tinha sua produção fortemente ligada a rituais sociais solenes, tornam-se, paulatinamente, descartáveis e efêmeras. Ainda assim, continuam sendo socialmente importantes, atualmente funcionando como vetores sociais.

Flickr
e Youtube são dois exemplos de produções sociais circulando de maneira planetária. A popularidade desses dois sites aponta para a valorização da produção e circulação de imagens de diferentes conteúdos e perspectivas (local, global) em detrimento da qualidade. Passa-se a considerar mais a expressão e as situações representadas do que a perfeição técnica dos produtos midiáticos.

Lemos nota ainda que, embora a questão da portabilidade não seja assim tão nova (as primeiras kodaks portáteis inventadas por George Eastman datam de 1888) a facilidade de distribuição global é algo bastante revolucionário se pensarmos a história dos meios de comunicação, e fala numa fase de meios pós-massivos, caracterizados, a saber, por:
- Liberação da emissão: qualquer um pode pode produzir e publicar conteúdo, o que derruba a lógica de que há poucos emissores e muitos receptores.
- Conexão entre pessoas: além da já citada questão da distribuição, pode-se mencionar também a questão da ubiqüidade ("está em um lugar da rede, está em todo lugar")
- Reconfiguração: Lemos aqui exemplifica com o fato de se poder consumir / produzir breaking news ou micro-contos através do Twitter , inicialmente não pensado para isso.

Ele ainda ressaltou que a "inclusão digital" não significa aumentar o número de pessoas com equipamentos modernos, mas ensiná-las a produzir algo com o que já está disponível através de uma inteligência coletiva.

Lemos atentou para um maior consumo de informações fora dos meios tradicionais e massivos de comunicação.

Outro tema discutido no início da aula foi o desuso do e-mail e o crescimento da utilização das
redes sociais como o próprio Twitter , além de Facebook , Orkut, etc.

Ele ainda falou da "vigilância" e de como as investigações são mais fáceis quando se tem várias pessoas fornecendo suas próprias informações em rede (currículos, gostos pessoais, mensagens compartilhadas, endereço etc).

Texto de Pierre Lévy - "O impacto inexistente da tecnologia"



O segundo momento da aula foi voltado à leitura e discussão do texto, que apresenta perspectivas antropológicas, históricas e filosóficas sobre a questão da técnica. Para Lévy, ainda existe um predomínio da visão de técnica como algo exterior, que causa "impactos" na humanidade (colocada como vítima, "alvo" do impacto). O autor irá criticar e desconstruir essa idéia de técnica como algo externo e mostrar que esse impacto não existe, pois a técnica é, ela própria, imbuída de significado cultural e social; constituinte do animal homem.

"O mundo humano é desde sempre técnico", argumenta Lévy, para quem a distinção entre cultura (dinâmica das representações), sociedade (as pessoas, seus vínculos, suas trocas, suas relações de força) e técnica (os artefatos eficazes) só é possível em termos conceituais, e embora haja instituições que se organizam a partir desse corte conceitual, não se pode determinar os limites reais da cultura, sociedade ou técnica.

Essas reflexões deixam claro que - se partirmos de uma perspectiva que a técnica não é algo natural - não se pode, então, considerar o homem como ser natural, pois nossos costumes sempre estiveram imbuídos de técnicas e nosso estar no mundo se dá através de atos artificiosos. Portanto, somos todos artificiais. Como exemplo, nossa ligação com a terra, tida por muitos como natural, se fixou a partir da necessidade de se criar técnicas de enterro dos mortos. Dessa forma, nossa relação de moldar o mundo (artificial) estabeleceu uma relação que é naturalizada e compartilhada pela humanidade.

Quando fala sobre as cibertecnologias, Lévy ainda argumenta que seu desenvolvimento está sim ligado ao poder econômico e estatal, mas também a projetos de idealizadores e usuários, que buscam aumentar a autonomia dos indivíduos e redobrar suas faculdades cognitivas.

Por fim, "Uma técnica não é boa nem má (depende dos contextos), nem neutra (é condicionante de um leque de possibilidades). Não se trata de avaliar os 'impactos', mas de descobrir o irreversível. E decidir o que faremos com ela.", ou ainda "Por trás das técnicas, no meio delas, agem e reagem idéias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder".

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