Sunday, October 24, 2010

Resenha da aula dia 20 de Outubro de 2010

André Lemos retoma a discussão da aula passada, suscitada pelo texto de Martino “Afinal de qual comunicação estamos falando?” e ratifica as distinções entre troca de informações entre agentes não-humanos (grau zero da comunicação) e a comunicação propriamente dita que significa uma troca de consciências.


ENTREVISTA COM O NEUROCIENTISTA ANTÓNIO DAMÁSIO

André Lemos lê alguns trechos de uma entrevista com o neurocientista português António Damásio. Para o entrevistado, a cibernética é a ciência das ciências, pois dá conta das trocas informacionais entre homens e homens, homens e máquinas e entre máquinas e máquinas, como já foi dito, a troca informacional pode ser compreendida como comunicação em um grau zero.

Apesar de as tecnologias terem favorecido o aumento na troca de informações, este fato não significa que a comunicação, no sentido em que estamos falando, tenha aumentado também.

Por ser neurocientista, Damásio retoma a relação (vista também no capítulo 1 do livro Cibercultura de André Lemos) entre córtex cerebral e habilidade técnica, ou seja, a imbricação do homem com a técnica, a qual não deve ser tomada ligeiramente como algo artificial e externo à humanidade.

Segundo Damásio, alguns historiadores estiveram presos à idéia do córtex, mas para ele o mais interessante é pensar no tronco cerebral, parte mais antiga do cérebro e que cria uma ponte entre os organismos que o tem e os que não o tem.

Para Damásio, mais importante que falar de cérebro é, então, falar de consciência, já que ela confere à espécie humana a possibilidade de buscar seu bem-estar. É, dessa forma, que Damásio irá traçar um histórico da evolução da consciência descrevendo e nomeando as várias etapas deste processo:


1) Consciência Nuclear

2) Consciência Autobiográfica

3) Consciência Expandida

4) Consciência de Si


A aparição da linguagem permitiu à comunicação tornar-se mais sofisticada, uma que deixa de seguir princípios unicamente biológicos. Damásio chega a dizer: “A cultura nos liberta da escravidão biológica”.

Depois de falar sobre consciências, Damásio irá tematizar as emoções, as quais, segundo ele, exercem forte poder sobre o nosso processo cognitivo; sem as emoções não haveria desenvolvimento das ciências. Quando perguntado pelo jornalista sobre se uma máquina poderá ser pensante um dia, Damásio responde que uma máquina só poderia ser pensante se nela fossem instauradas emoções como a raiva, a inveja e a felicidade. “Um robô não tem matéria orgânica e isto muda tudo”, disse.

Concluímos então que nada que particulariza a comunicação é encontrada na simples troca informacional.


SOBRE FORMAS E FÓRMULAS – FLUSSER

Flusser tenta responder neste ensaio a seguinte pergunta: Aquilo que nossa consciência não consegue apreender não é real?

Para ele, temos inventado métodos e aparatos que funcionam de modo similar ao sistema nervoso central (SNC), só que de maneira diferente. Além disso, também podemos agora viver em outros mundos. No caso, estamos vivendo no mundo da Comunicação, uma vez que nossa maneira de pensar é altamente influenciada por este meio comunicacional e artificial no qual estamos imersos, afinal não há um sujeito puro, que viva isolado e esteja desprendido de amarras. Estamos amarrados às coisas e também às não-coisas; todos os lugares que ocupamos no mundo estão em processo, entrecortados por fluxos comunicacionais.

Por isso, o que temos hoje é uma complexificação dos lugares e sujeitos, e não um esfacelamento destes. Hoje, nos cabe avaliar como um processo comunicacional interfere na nossa experiência. Heidegger e a idéia de ser-aí (dasein) já apontavam para a capacidade do homem poder ocupar um espaço projetando-o de maneiras distintas.

Vivemos numa tradição que insiste em separar a emoção da razão, no entanto, como apontou Damásio na entrevista lida no início da aula, a emoção é constituinte da maneira como pensamos. O real é uma construção e nosso papel é construído através do discurso. Wittgenstein, por exemplo, dizia que o real é construído pela linguagem.


MATERIALIDADE DOS DISPOSITIVOS

André Lemos pergunta à turma o que é ler um jornal impresso e o que é ler um jornal online. A pergunta visa à discussão entre os alunos sobre as diferentes experiências de leitura. Após algumas pessoas falarem o que pensam acerca de cada uma das leituras e do modo como elas operam isso no cotidiano, André Lemos fala que crê nunca ter lido um jornal online.

Ele começa então a falar de suas experiências com o Kindle, no qual ele pode ter a assinatura de diversos jornais e consegue consumir um produto finalizado (diferente do que ocorre com o online). Os jornais no Kindle são digitais e totalmente offline, não há links (o que inibe a dispersão, característica que muitos consideram prejudicial na leitura online). “Hoje tenho de dedicar um tempo para ler o jornal, assim como fazia antigamente”, comentou o professor.

A sala, de modo geral, é contra os jornais em Page Flip (aqueles que emulam um jornal impresso na internet). André Lemos explica que essa modalidade de leitura vai contra a tônica do dispositivo, do suporte.

Falamos, portanto, de três modalidades de leitura diferenciadas: impresso, internet e Kindle.

Na web, temos uma experiência mais telegráfica; pequenas notícias, pequenos parágrafos. No Kindle, há uma retomada do aprofundamento das matérias, característica do impresso.

Todas essas experiências modificam também a experiência corporal. Para explicitar essa mudança, André Lemos exibiu um vídeo no YouTube que, de forma caricata, mostra a transição da experiência de leitura do papiro para o livro.

A escrita hoje tem sido transformada não com os livros, mas com as telas e a quantidade de tempo que as pessoas têm dedicado à leitura só tem aumentado. Para Kevin Kelly, estamos lendo tela, e ler telas demanda outras habilidades de leitura de outros símbolos, que não só letras. André Lemos pondera essa posição de Kelly.

Hoje temos, sem dúvida, uma leitura mais utilitária que contemplativa. Temos focos atencionais, posturas e dispositivos diferentes e o que interessa é que sejamos cortados por esses diversos curtos-circuitos.

Para concluir o raciocínio e a aula, André Lemos leu trechos do livro francês “Por que ler?”. O livro fala da leitura de literatura a qual tem sua força na fraqueza, nesse exercício de contemplação, que foge do utilitarismo ligeiro.

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