Monday, May 4, 2009

Resenha da aula de 28 de abril de 2009

Como de praxe, a aula inicia com discussões sobre temas da atualidade e os posts do blog da turma. O primeiro tema a ser discutido foi um post sobre “vídeos virais”, tomando como exemplo o caso de Susan Boyle que ficou famosa com um vídeo do programa de calouros Britains Got Talent, veiculado no Youtube.

André Lemos aproveitou a deixa sobre disseminação de informações e fez uma relação com a epidemia de gripe suína que vem assolando o mundo. Lemos diz que muito mais que uma epidemia viral, a gripe suína se tornou um gozo da mídia, ou seja, uma espécie de informação viral que se espalha pelo mundo alimentando um pânico sobre o tema.

Logo depois, Lemos comenta sobre uma palestra que aconteceu recentemente, via twitter, com o pesquisador do Instituto Tecnológico de Massachusetts - M.I.T. , Henry Jenkins. Autor do livro A Cultura da Convergência, Jenkins aborda em seu livro como a convergência das tecnologias de comunicação e informação dialogam com a sociedade contemporânea. Lemos faz uma critica ao título do livro, pois, segundo ele, a convergência seria tecnológica e não cultural.

Em seguida, Lemos passa uma entrevista com Henry Jenkins, realizado no programa Milênio, da Globonews. Abaixo, segue os principais pontos abordados no vídeo:

Uma análise da revolução da mídia participativa e as conseqüências para o futuro

a) Os novos criadores da mídia, ao menos nos EUA, tem quase todos menos de 18 anos. 57% dos jovens americanos têm seus próprios blogs, desenham suas páginas na internet, fazem filmes digitais e inventam diversos personagens fictícios em jogos virtuais. Esses jovens estão modificando a cultura do mundo contemporâneo

b) Henry falará no vídeo sobre a revolução da mídia participativa e suas conseqüências. Segundo Jenkins, hoje vivemos em um mundo no qual fazer mídia é tão importante quanto consumir mídia.

c) Jenkins aponta a convergência tecnológica como um processo cultural, referente ao fluxo de imagens, idéias, histórias, sons e relacionamentos através do maior número de canais midiáticos possíveis. Algo que não se restringe às decisões empresariais, perpassa também no dia-a-dia das pessoas.

d) Os meios de comunicação de massa ainda exercem um grande controle sobre a sociedade, mas, ao mesmo tempo, vivemos em um mundo onde praticamente não há filtros de informação, com uma produção colaborativa e interativa por parte da sociedade. São duas visões de mundo, o primeiro quer controle e consumo e o segundo busca uma produção pulverizada de mídia.

e) Nossa atividade em redes sociais ajuda na formação coletiva do conhecimento e na circulação de idéias na sociedade.

f) Sociedade Renascentista X Sociedade convergente – Antigamente, os grandes intelectuais da história dominavam uma grande demanda de conhecimentos de uma sociedade. Hoje, há uma explosão das informações, não é mais possível saber tudo. Vivemos em uma sociedade em rede (network society), ou seja, uma inteligência coletiva a qual “todos sabem alguma coisa”.

g) Atualmente, muitos se sentem inaptos a lidar com o excesso de informações, mas isso ocorre devido à aplicação da lógica do homem renascentista (sabe tudo), quando na verdade esse modelo deve ser coletivo e colaborativo.

h) Cosmopolitismo pop – Os jovens de hoje estão imersos na cultura popular do mndo inteiro. Para eles, os videogames refletem culturas distintas, assim como o cinema para outras gerações.

i) A remixagem pretende estabelecer um diálogo com o passado, ao invés de reivindicar para si a autoria das obras. É um processo de colaboração com a cultura que nos cerca. Um dos problemas de hoje é que as leis autorais inibem a cultura, restringindo o uso das obras aos seus proprietários. Numa época onde cada vez mais pessoas produzem mídia, as empresas e os jovens estão confusos sobre os limites éticos.

j) Creative Commons – Permite que artistas determinem quais direitos querem manter e quais querem liberar, baseado em um modelo de economia moral. Ainda nos vemos impedidos de usar essa estrutura aberta devido o embate com a grande mídia.

l) Jenkins afirma que não acredita no fim das mídias tradicionais e nos meios de comunicação de massa. Televisão, cinema e jornais continuarão a funcionar na sociedade, mas dentro de um contexto em que existem outras opções para comportamentos mais participativos.

Após o vídeo de Henry Jenkins, o Grupo 1 deu início à apresentação do texto de Francisco Rüdiger, “A Escola de Frankfurt”, presente no livro “Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e tendências”.

A Escola de Frankfurt, por Franciso Rüdiger.

1. Dialética do Iluminismo e indústria cultural

O conceito de Indústria Cultural - hoje tão corrente em Escolas de Comunicação e pelos herdeiros do pensamento frankfurtiano - foi inaugurado por Adorno e Horkheimer na obra A Dialética do Iluminismo. Não é possível, porém, compreender completamente as idéias enunciadas pelos dois sem uma preliminar contextualização de quando foi proposto o conceito. A U.R.S.S. tinha se burocratizado e os problemas do estalinismo decepcionavam os marxistas por toda a Europa, que por sua vez era assolada por regimes totalitários de ultra-direita. Refugiados nos EUA, os autores d'A Dialética do Iluminismo começavam a perceber que em regimes democráticos também se faziam presentes tendências totalitárias. No campo cultural norte-americano, na época, explorava-se massivamente as estrelas do jazz e a Era de Ouro de Hollywood ainda estourava com suas super-produções, e os desenhos animados da Disney circulavam nos cinemas.

Tendo em vista esse contexto, Adorno e Horkheimer, referindo-se às sociedades capitalistas avançadas, defendem - enuncia Rudiger - que "a população é mobilizada a se engajar nas tarefas necessárias à manutenção do sistema econômico e social através do consumo estético massificado, articulado pela indústria cultural. As tendências à crise sistêmica e deserção individual são combatidas, dentre outros meios, através da exploração mercantil da cultura e dos processos de formação de consciência".

Mais tarde, Rudiger fala que é preciso entender o que os autores nomeiam "Dialética do Iluminismo", e escreve que esse conceito refere-se ao projeto moderno de criar a idéia dos seres humanos como livres e distintos (mitos da liberdade individual e do sujeito centrado do pensamento cartesiano). Embora esse mito tenha ajudado a burguesia ascendente a se libertar de opressões seculares - Igreja, Estado absolutista, etc. - criou uma série de novas sujeições e patologias culturais. "A figura da Indústria Cultural é, segundo os pensadores, uma prova disso, de como os meios do Iluminismo progressista podem, no limite, se transformar em expressões da barbárie tecnológica".

Por aqui, embora Rudiger não o faça, é preciso se deter em dois aspectos. Primeiro, o que os frankfurtianos falam acerca do projeto Iluminista e do sujeito cartesiano. Aqui, um pensamento muito sofisticado, que vai ser desenvolvido pelos pós-estruturalistas e pelos Estudos Culturais, já é "pincelado". O segundo aspecto é a forma como especificamente Adorno e Horkheimer encaram a questão da técnica. Num trecho destacado por Rudiger de "A Dialética do Iluminismo", lê-se "O indivíduo se vê completamente anulado em face dos poderes econômicos. Ao mesmo tempo, estes elevam o poder da sociedade sobre a natureza a um nível jamais imaginado. Desaparecendo diante do aparelho* a que serve o indivíduo se vê, ao mesmo tempo, melhor do que nunca provido por ele". É importante ressaltar que num ensaio escrito antes de "A Dialética do Iluminismo", Walter Benjamin encara a técnica de uma outra forma, menos apocalíptica e mais integrada ao ser humano, sugerindo que os desenvolvimentos técnicos alcançados pela Indústria Cultural podem ser reapropriados e utilizados para a libertação das massas.

* Quando aparece anteriormente no mesmo trecho, a palavra "aparelho" é seguida da palavra "técnico".

2. A obra de arte na era da técnica

Walter Benjamin e Siegfried Kracauer nunca chegaram a ocupar efetivamente o olho do furacão teórico da Escola de Frankfurt. No entanto, seus trabalhos acadêmicos em tecnologia e arte contribuíram significativamente para o projeto central daquela Escola que propunha a formulação de uma teoria crítica geral sobre a sociedade. Para eles, o avanço tecnológico, sobretudo em sua dimensão comunicacional, inaugurou um processo de democratização da cultura. As novas tecnologias de então, a exemplo do cinema e do rádio, permitiram que a lógica fordista de produção industrial interferisse na forma com que os bens culturais eram produzidos e consumidos. Em seu ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, Benjamin considera que o avanço tecnológico das comunicações permitiu que a arte e a cultura extrapolassem seus limites físicos tradicionais, a exemplo da música que não mais estaria fadada à claustrofobia dos concertos em grandes teatros porque agora poderia alcançar o cotidiano das pessoas através de transmissões radiofônicas ou gravações em discos. Assim, os processos produtivos de arte e cultura sofreram tamanha dinamização que permitiram o alcance dos bens culturais para além do domínio burguês e possibilitaram também a distribuição dos mesmos para os grupos sociais de camadas mais populares. Segundo Benjamin e Kracauer, a democratização do acesso à arte permitiria o avanço do projeto revolucionário à medida que as próprias experiências estéticas, agora longe do monopólio da alta cultura, contribuiriam para o melhoramento espiritual e intelectual das massas. O próximo passo para a revolução teria como empreendimento a desapropriação desses meios que sempre estiveram sob controle burguês e a progressiva ocupação de seus comandos pelas massas. Por outro lado, as colocações de Benjamin e Kracauer, quando submetidas às ponderações críticas de Adorno, parecem padecer de um otimismo ingênuo e pueril. Para ele, não bastaria apenas conceder às massas o domínio sobre os meios de produção cultural porque as carências desses grupos ultrapassariam a dimensão instrumentalista. Segundo Rüdiger, Adorno acreditava que esses próprios meios impediriam o processo revolucionário “por terem sido colocados a serviço de uma indústria cultural que já havia se convertido em sistema”.


3. Indústria Cultural e teoria crítica da sociedade

Escola de Frankfurt foi o nome dado ao coletivo de pensadores alemães que desenvolveram pesquisas na área de cultura e comunicação. Os principais nomes dessa escola são Erich Fromm, Herbert Marcuse e Theodor Adorno e Max Horkheimer, criadores do conceito de indústrica cultural. Estes pensadores pretendiam criar uma "teoria geral da ação comunicativa", apesar de nenhum deles pertencer ao campo da comunicação. A Escola de Frankfurt unia pensadores que tinham o intuito de elaborar uma teoria crítica da sociedade. Para tal, eles utilizavam teses de Marx, Freud e Nietzsche e recriavam suas idéias para entender a nova realidade surgida no início do século XX, que englobava a relação da cultura com a sociedade e a economia.

Nas primeiras décadas do século XX os Frankfurtianos utilizaram o termo "indústria cultural" para se referir ao fato de a cultura estar subordinada à racionalidade capitalista. De acordo com Horkheimer, Adorno entre outros, a indústria cultural era uma prática social em que a produção cultural e intelectual estavam diretamente a serviço da possibilidade de consumo e de mercado. Para eles, a produção estética estava totalmente integrada à produção mercantil, graças ao poder das tecnologias de reprodução e difusão de bens culturais. Desse modo, empresas de comunicação tomavam o lugar da escola, da família e da religião como formadoras da moral e dos valores. Os frankfurtianos consideravam esse fator prejudicial, pois, a cultura de mercado misturava as qualidades das obras artísticas e as nivelava de acordo com um padrão de gosto bem-sucedido para que isso fosse vendido cada vez mais. Ao fim do texto, fica clara a releitura dos escritos da Escola de Frankfurt, que reconhece a preocupação central dos pensadores no sentido de problematizar a existência dos meios de comunicação, sem necessariamente condenar a tecnologia e a facilidade do uso e exploração das obras de arte.


4. A colonização da esfera pública

Habermas, considerado um frankfurtiano da segunda geração, parte dos conceitos desenvolvidos pelos teóricos da primeira geração e os aplica para compreender o desinteresse crescente da sociedade pela política. Ele compreende, segundo Rudiger, que "a cultura de mercado, embora pretenda ser apolítica, representa ela mesma uma forma de controle social ou mando organizacional". Rudiger, ainda falando de Habermas, diz que "Para ele, de fato, a crescente apatia ou desinteresse da população para com a ação política, senão pela própria vida democrática, é correlata à destruição da cultura como processo de formação libertador e de liberação de potenciais cognitivos que tem lugar na era da sua conversão em mercadoria".

Habermas desenvolve em seu "Mudança estrutural da esfera pública" a tese de que a economia de mercado fez ascender a imprensa, criando um espaço público essencialmente marcado pela circulação da mídia impressa, permitindo à burguesia libertar-se de certas opressões seculares - Estado, Igreja, etc. - mas que a cultura econômica a partir do final do século XIX foi rompendo o equilíbrio que sustentava tal modo de sociabilidade justamente pela "privatização" do que sustentava essa esfera pública - a circulação de mídias. Habermas diz que, assim, a figura do cidadão foi reduzida, eclipsada frente à do consumidor, e a política se tornou objeto de espetacularização. Isso tanto em estados totalitários quanto em estados democráticos de massas, teoriza Habermas.

5. Comunicação e sociedade

Nesse contexto histórico, o avanço tecnológico dos meios de comunicação veio acompanhado de uma revolução informacional. Conteúdos referentes às mais diversas esferas do conhecimento passaram a estar disponíveis em suportes próprios de meios mais democráticos de distribuição. O cinema e o rádio – mais tarde o próprio aparelho de tevê – contribuíram para que o acúmulo vertiginoso de informação fizesse com que o homem ultrapasse os limites saudáveis do esclarecimento. Segundo Rüdiger, “as pessoas sempre sabem mais do que acontece à sua volta e, tornadas realistas pela disponibilidade de informação, crêem cada vez menos nas idéias”. É através da racionalidade e do utilitarismo, pilares da vida moderna eleitos pelo modelo econômico capitalista, que os meios de comunicação denunciam sua influência de mão dupla: à medida que contribuem para o enriquecimento intelectual do indivíduo, oferece o entretenimento vicioso que ocupa o vazio existencial da modernidade. Assim, concentrar o foco de estudo na forma com a qual os meios de comunicação de massa participam dos momentos de lazer e entretenimento do homem moderno foi mais importante para a Escola de Frankfurt do que talvez se preocupar com o conteúdo programático das atrações veiculadas pelos mass media. A indústria cultural, para além de incutir idéias e ideologias na mente do indivíduo, aproveita-se de necessidades e carências, sofridas por ele, de ordem sócio-histórica. Afinal, como acentua Rüdiger, “a prática da industrial cultural segue a linha da menor resistência, não deseja mudar as pessoas: desenvolve-se com base nos mecanismos de oferta e procura”.

6. Observações finais

Lahire, falando sobre o pensamento de Bourdieu, diz que para além de uma aderência fanática a uma sociologia ou repulsa com relação a ela, é preciso fazer revisões críticas. Rudiger conclui enunciando algo semelhante acerca dos frankfurtianos. Para além da crítica a uma postura apocalíptica, é preciso revisar suas teorias e fazer prolongamentos críticos.


GRUPO 1

Labels: , , ,

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home