Thursday, April 23, 2009

RESENHA DA AULA (09/04/2009)

PRELIMINARES

Em contraponto às incertezas da vida do baiano moderno, temos a certeza de que o extraordinário vive seu cotidiano em terras de Caymmi. Certo é o apresentador e radialista Raimundo Varella, que diuturnamente parafraseia em seus programas o falecido governador Octávio Mangabeira: “Pense no absurdo... na Bahia tem precedente”.

O calendário somente santificou com a folga oficial a sexta-feira, mas o oficioso é regra no Estado. Assim, na quinta-feira (também santa, porém, dia normal de trabalho e estudo), o professor André Lemos e meia-dúzia de alunos “faconianos” compareceram à aula sob um silêncio, por assim dizer, divino. Houve uma conversão em massa: os faltosos aderiram a Cristo, à Igreja ou ao simples descanso. Na FACOM, certos rostos puderam ser conhecidos e reconhecidos. Teve gente que conheceu o porteiro naquela manhã.

Algo estranho estava para acontecer: na FACOM vazia, as conversas dos hereges – os que não crucificaram a véspera – batiam nas paredes, ecoando sem encontrar ouvidos alheios. Até assombração apareceu: era o professor Benjamin Picado, ameaçando falar de Semiótica.

O semblante risonho do professor André Lemos não escondia a sua decepção com o sistema de coisas que rege o mundo moderno. Teimoso, resolveu dar a aula aos corajosos ímpios. Não adianta: o povo enforca até inocente (a quinta-feira, a santa). Aqui, na esquina do fim do mundo, começa-se a preparar o acarajé de domingo desde a quinta-feira pela manhã. É mais gostoso.

A AULA
ATO I

GRUPO 11 FINALIZA SEU SEMINÁRIO


Rapidamente o grupo 11 finalizou o seu seminário. Apontou-se na apresentação da equipe a divergência de opiniões entre o Mass Communication Research, a Teoria Funcionalista – que afirmava que a mídia é neutra – e os adeptos da Escola de Frankfurt – que assegurava que a mídia não é neutra: está necessariamente engajada.

André Lemos asseverou que não temos meios de comunicação de massa. Existem meios de informação de massa.

A AULA
ATO II


Em seguida, o grupo 12 começa a apresentação do seminário sobre o texto de Niklas Luhmann, “A improbabilidade da comunicação”. Dividem o seminário em três partes, conforme sugestão outrora lançada em aula pelo professor André Lemos: idéia central, argumentos do autor e levantamento de algumas questões a partir do texto.

IDÉIA CENTRAL

Tomando por base a Teoria Política de Thomas Hobbes – que não acreditava na possibilidade de apreender de modo espontâneo a natureza, e questionava todas as condições que possibilitavam tal conhecimento – Niklas Luhmann, em “A improbabilidade da comunicação”, diz que a comunicação é improvável, isto é, não se produza efetivamente.

Estamos acostumados a tratar a comunicação a partir dos “fenômenos comunicativos” e, portanto, certos de que a comunicação aconteça: tratamo-na como inevitável. Eis o paradoxo: tem-se, por senso comum, a “certeza” da prática comunicativa e Luhmann suspeita da existência da comunicação.

Luhmann passa a problematizar o que é imperceptível: analisa as dificuldades que a comunicação tem de superar para acontecer, de fato. Desta forma, o teórico não sustenta a impossibilidade da comunicação, e sim sua improbabilidade. Indica que a comunicação careça de mecanismos capazes de tornar possível o improvável, superando três certas barreiras.

ARGUMENTOS DO AUTOR

Para sustentar a sua tese, Luhmann lista três empecilhos à comunicação que acabariam por torná-la improvável:

A primeira sugere ser "improvável que alguém compreenda o que o outro quer dizer, tendo em conta o isolamento e a individualização da sua consciência". O sentido é dado pela conjuntura, e esta última, por sua vez, é percebida pela faculdade de memória de cada um. Há dificuldade em atingir o outro, pois o outro é sempre uma incógnita. Neste ponto, André Lemos acrescentou em aula que concorda com Luhmann, pois sempre será preciso, no ato da comunicação, “romper com o isolamento” próprio de cada humano ser. Exemplificou este primeiro obstáculo: durante as aulas, espera-se que os assuntos transmitidos sejam compreendidos pelos graduandos.

A segunda diz ser "improvável que uma comunicação chegue a mais pessoas do que as que se encontram presentes numa situação dada". Trata-se aqui do problema da atenção, normalmente garantida pela interação entre os indivíduos numa situação determinada. Não há garantias de que a comunicação venha a acontecer em situações distintas, se exposta a diferentes interesses. Perder-se-á a atenção. Há dificuldade em atingir o outro se o interesse do outro for distinto.

A terceira refere-se à improbabilidade de se obter o resultado desejado, isto é, a aceitação da informação como premissa de comportamento por parte do receptor desejado. "Nem sequer o fato de que uma comunicação tenha sido entendida garante que tenha sido também aceita", diz Luhmann. Dessa forma, Luhmann condiciona a comunicação ao efeito esperado. A “prova” de que a comunicação aconteceu, seria a adoção, pelo receptor, do conteúdo da mensagem emitida.
Neste ponto reside a grande discórdia entre o professor Lemos e a teoria de Luhmann: para o André, o fato de o receptor não aprovar e não seguir o que o emissor transmitiu através da mensagem, não significa que não houve comunicação.

Luhmann prossegue afirmando que as três formas de improbabilidade se reforçam mutuamente. Quando um dos pontos é resolvido – a exemplo da compreensão da mensagem –, salienta-se outro – aumenta-se a possibilidade de rejeição.

O GRUPO LEVANTA ALGUMAS QUESTÕES

Procurando fortalecer a compreensão da sala sobre o assunto abordado, o grupo 12 citou alguns exemplos:

1. Apesar de não se ter a possibilidade de um meio que resolva estas dificuldades, facilitando a compreensão da mensagem, os grandes meios modernos de comunicação de massa atuam como se tais dificuldades fossem superadas. A partir daí, atribui-se como uma das causas da perda de audiência que a Rede Globo está experimentando nos últimos anos (conforme aferições feitas pelo IBOPE), ao caráter nacional de sua programação. A emissora buscou, no decorrer dos anos, implantar uma grade nacionalizada, com um “sotaque” carioca. Num país de sotaques, trejeitos e verdades diferenciados, as emissoras locais têm investido na programação regionalizada, obtendo êxito ao falar diretamente ao cidadão local. Programas como o “Se liga Bocão!”, da TV Itapoan, ou “Na mira”, da TV Aratu, têm obtido índices de audiência muitas vezes superiores à Globo, quando a emissora exibe sua programação nacional. O mesmo acontece em diversos estados brasileiros. A dificuldade de chegar aos indivíduos, com seus interesses locais, com uma programação distante e com suposta uniformização do conteúdo – a despeito dos reais desejos da população local – atesta a tese de Luhmann: a atenção se dispersa.
André Lemos, bom carioca, atribuiu, como chiste, a adoção do sotaque carioca pela Globo ao “fato” de o carioca “não ter sotaque”. Pelo amor da garantia da nota... sem comentários.

2. Analisemos um dos criativos
anúncios da cerveja Skol. O “enredo” trata da busca pelo suposto “código redondo”.

Em um primeiro momento, temos o problema da compreensão da mensagem: para falar da cerveja, a propaganda faz uma narrativa que vai do momento em que os extraterrestres teriam chegado à Terra, portando o código (sendo recebidos por um velho caridoso que os ajuda) até chegar ao momento em que o tal “código redondo” é revelado numa fábrica da Skol.

Daí se infere que o telespectador teria a atenção voltada para a propaganda, por ter uma “narrativa envolvente”. Não se pode provar que o telespectador realmente prestou atenção naquilo que viu. Simplesmente pode ter ignorado ou ido ao banheiro no momento da veiculação daquela propaganda. Lembremos: estes anúncios são veiculados nos intervalos dos programas televisivos.

Infere-se, também, que o fato de o telespectador ter visto a propaganda, compreendido e prestado atenção, não significa que ele aceitará a informação. Ou seja, não significa que ele vá comprar a cerveja por isso.

A AULA
ATO III


Finda a apresentação do grupo 12, tendo pouca discussão devido à falta de quórum, André Lemos finalizou a aula.

Eis o lado bom da ausência dos muitos: a chamada foi breve.
GRUPO 12

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