Resenha da aula do dia 05/05
A aula foi iniciada com a continuidade da apresentação do grupo 10 sobre o texto “Tecnicidades, Identidades, Alteridades: mudanças e opacidades da comunicação no novo século” de Jesús Martín-Barbero
II. A explosão das identidades
Barbero inicia essa segunda parte trazendo a discussão sobre o processo de inclusão e exclusão que a globalização provoca. Tal processo acarreta em uma separação profunda entre a lógica global e as dinâmicas locais. A manifestação mais visível desse fenômeno se reflete no cotidiano das pessoas que passam a compartilhar um sentimento de impotência, de que as coisas ao redor estão fora de controle. Barbero pontua que a crise das três grandes instituições da modernidade – o trabalho, a política e a escola – provoca o distanciamento da identidade do indivíduo que era claramente definida: homem ou mulher, negro ou branco, etc. O que Barbero chama de sociedade-real não é um puro fenômeno de conexões tecnológicas, mas da separação sistêmica do global e do local, do público e do privado.
1. Mudanças de profundidade na percepção e no sentido das identidades
Tomando como apoio os estudos de Stuart Hall, Barbero aponta para a multiplicação de referentes. Demonstrando a fragmentação identitária do indivíduo. Mas, essa discussão se complexifica a partir do ponto em que a identidade local começa a ser conduzida para se transformar em uma representação da diferença que seja submetida ao fluxo comercializável. Ou seja, a tradução de todas as diferenças culturais para uma linguagem do mundo tecnofinanceiro, flutuando livremente no esvaziamento cultural e na indiferença cultural. O autor passa, então, a comparar como identidade estava atrelada ao sentimento de pertença a um território, mas que atualmente se torna necessária falar de mobilidades e migrações, redes e fluxos. Barbero defende que essa interculturalidade pode e deve proporcionar a resistência da diversidade, refletida em alternativas libertárias e inclusivas, em um potencial de enriquecimento social e pessoal. Conseqüências que, segundo o autor, não se resultam das redes tecnológicas.
2. Globalização: contradições entre identidades e fluxos
Como foi colocado no tópico anterior, a globalização tende a inscrever as identidades nas lógicas dos fluxos. O fenômeno que vem a complementar esse movimento diz respeito ao fluxo das imagens e das mercadorias que vão do centro à periferia e o movimento dos milhões de imigrantes que vai da periferia ao centro. Além dessa mobilidade, a globalização exaspera e alucina as identidades básicas. Barbero cita o exemplo de Sarajevo e Kosovo, nações que lutam para serem reconhecidas, mas cujo reconhecimento só é completo quando expulsam de seu território todos os outros. Nesse ponto, Barbero afirma que em cada país ou comunidade de países, cada grupo social e até cada indivíduo precisarão evitar a ameaça que significa a proximidade do outro. Em outras palavras, seria a afirmação da idéia de “cada qual em seu lugar”. Esse revival identitário possui um caráter ambíguo e contraditório, pois ao mesmo tempo em que as afirmações de identidade se fortalecem, o sentimento de exclusão também. As identidades hoje podem ser consideradas como motor de luta através da demanda de reconhecimento e de sentido. Mas ambos não são formuláveis em âmbitos econômicos ou políticos, pois se encontram referidos no campo cultural. Para Barbero, a identidade se constitui hoje na negação mais destrutiva, mas também na mais ativa e capaz de introduzir contradições.
3. O caráter constitutivo das narrativas identitárias
Para o autor, não há identidade cultural que não seja contada, pois para que a pluralidade das culturais se torne acessível, é necessário que a diversidade de identidades possa ser contada. Isso pode acontecer tanto na mesma língua de um povo quanto em outras línguas diferentes utilizando o recurso da tradução. A globalização põe em questão não somente uma circulação maior de produtos, mas também uma rearticulação profunda das relações entre culturas e entre países. As novas tecnologias se propõem a manter a memória cultural e, consequentemente, o reconhecimento dessa cultura. Mas, isso não quer dizer que esse fator cultural não esteja ligado à lógica de rentabilidade. Essa crise da estética da obra e do autor encontra sua manifestação na fragmentação dos relatos. O que pode-se observar é que a narração estraçalhada de alguns pequenos relatos são gerados em qualquer lugar e se deslocam de uns meios a outros.
III. Heterogeneidades socioculturais
A idéia de que o capitalismo dita regras que devem ser seguidas por todos na sociedade contemporânea não impede que novos questionamento e padrões sejam estabelecidos.
Como diz A. Appaduraj, citado por Barbero, “formas construtoras de novas convivências humanas”. As identidades possuem a capacidade de se implodirem assim como de explodirem, reinventando-se política e socialmente. Nesse ponto, pode-se afirmar a existência das “políticas de identidade” acarretando no surgimento de um novo sujeito político. Exemplo disso pode ser visto no movimento feminista, acalentando sentimentos de reconhecimento e conscientização. Sentimento esse que se produz na materialidade das relações sociais. E no caso específico do feminismo, como resultado da exploração da própria experiência da opressão.
1. Novas figuras de cidadania
As novas figuras cidadãs remetem a políticas do reconhecimento que se realiza na distinção entre a “honra” tradicional, como conceito e princípio hierárquico, e a “dignidade” moderna como princípio igualitário. Nesse sentido, identidade não se limita a pertencer a um grupo específico, mas a expressão daquilo que dá sentido e valor à vida do indivíduo. A identidade se constrói no diálogo e no intercâmbio, já que dessa forma os indivíduos e grupos passam por aprovações e reprovações, reconhecimentos e desprezos. As identidades contemporâneas se constroem na negociação do reconhecimento pelos outros. Ao mesmo tempo, o multiculturalismo coloca em questão o acolhimento dessas múltiplas identidades pelas instituições liberal – democráticas. Assim, a proposta seria de expandir os direitos e valores universais a todos os setores da população. A democracia atualmente possui o papel de ser o palco da emancipação política e social, principalmente quando a diversidade se sobressai dentro de um todo unificado. Barbero finaliza esse ponto apresentando duas idéias: o direito à participação das comunidades e dos cidadãos e à intervenção nas decisões que lhe são primordiais; o direito à expressão nas mídias de massa e comunitárias de todas aquelas culturas, majoritárias e minoritárias, mediante transita a vasta e rica diversidade que constituem nossos países.
2. Reconfigurações do público
Barbero compactua com a idéia de alguns pensadores acerca da imposição imagética da televisão, sendo considerada até mesmo como um mal inevitável. Porém, para o autor, não basta somente denunciar, mas utilizar do aparato das imagens para intervir no processo, já que esse tipo de manifestação possui um forte caráter social. As imagens passam uma construção visual do social, na qual essa visibilidade toma o deslocamento da luta pela representação da demanda de reconhecimento. Isso pode ser considerado como uma nova forma de participação política para as minorias exercerem seus direitos. Barbero defende a idéia de que não há uma verdadeira democracia proveniente das novas tecnologias, que não é necessariamente pelo fato das pessoas terem acesso imediato e transparente às informações que desenvolverão senso crítico e de deliberação. Porém, o uso que as minorias e comunidades marginalizadas fazem das redes provoca ruídos e distorções no discurso global, através do dar voz a outros. Este processo introduz uma verdadeira explosão do discurso público, mobilizando a grande quantidade de comunidades, associações, grupos e potencializando a criatividade social no esboço da participação cidadã.
3. Novos regimes culturais da tecnicidade
Barbero afirma que a convergência da globalização e da revolução tecnológica configura um novo ecossistema de linguagens e escritas. A experiência das imagens atrelada à revolução digital marca a constituição de novas temporalidades associadas à compressão da informação, o surgimento de novas figuras de razão e a emergência de uma visibilidade cultural.
Após a apresentação do grupo 10, o professor André Lemos discursou sobre a dimensão simbólica e material dos objetos tecnológicos. Citou o exemplo do livro eletrônico e do livro digital, em que para algumas pessoas existe um valor em manter uma biblioteca física apesar da facilidade em mobilizar uma biblioteca virtual. Assim como aconteceu com o vinil, que muitos acreditavam que seria extinguido com o surgimento do cd, os livros físicos não perderam espaço para as novas tecnologias de leitura. Porque não é somente a função de um objeto que importa, mas sua simbolicidade enquanto tal. Mas isso não descarta a possibilidade desse objetos tradicionais sumirem. Um exemplo que pode sustentar essa discussão encontra-se no Japão,em que atualmente existe uma grande produção de literatura para celular.
Grupo 10
Labels: Fragmentação da identidade, Multiculturalismo, Reconhecimento
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