Wednesday, October 21, 2009

Resenha - ‘Surplus: Terrorized Into Being Consumers’

Pode-se dizer que ‘Surplus: Terrorized Into Being Consumers’ (2003), documentário dirigido pelo italiano Erik Gandini, está recheado de ironias contra a modernidade e as formas do capitalismo atual. ‘Surplus’ é uma palavra francesa que significa ‘superávit’ e o dicionário a define como: ‘excesso das receitas sobre as despesas’.

Portanto, a proposta do filme está instalada desde o seu título: falar-se-á sobre gastos, despesas e consumo – palavras chaves para o capitalismo. ‘Surplus’ trata dos rendimentos do homem ao consumo e como existe um sistema por trás que trabalha para estimulá-lo.

Nos primeiros minutos, vê-se um grupo neo-ludistas protestando e destruindo propriedades, contra o capitalismo pelas ruas de Gênova, enquanto acontecia a reunião do G-20. O neo-ludismo já é tido como um conceito político e refere-se a todos aqueles que se opõem ao desenvolvimento tecnológico ou industrial.

Depoimentos de John Zerzan, considerado o pai do ativismo Black Block, são mostrados a partir de então. Para ele, o mundo só poderia ser salvo se voltasse à idade da pedra. Tudo pode ser resolvido quando as indústrias forem destruídas. Ele defende a volta ao neolítico: onde o controle dos meios de produção não esteja restrito a esses poucos, que negociam as coisas com base no valor de troca.

Zerzan não acredita nos protestos pacíficos. Para ele, esse tipo de protesto se reduz a ‘segurar uma placa’ e não adianta para nada. Por isso, defende os danos limitados à propriedade. Tudo reduz a individualidade. Ele considera que o consumo é danoso e deve parar porque é degradante: “o desejo de consumo te aterroriza”.

Um discurso de George W. Bush é mostrado, repetidamente, onde ele diz: “Não podemos deixar que o terrorismo não nos deixe consumir.” Com isso, o filme deixa claro: é assim que raciocina a sociedade americana e os seus governantes - é o consumo que está em primeiro lugar e o modo de vida transnacional deve ser o modelo imposto pelos Estados Unidos.

Os dados que o documentário traz mais tarde também colaboram: 20% da população mundial consome 80% dos recursos planetários. Um americano consome 5 x mais que um mexicano, 10 x mais que um chinês, 30 x mais que um indiano. As proporções são diferentes, e aí entram variantes como realidade cultural, econômica e política, mas todos consomem.

Gandini consegue construir enunciado irônico com falas cortadas de presidentes e chefes de grandes empresas a favor do consumo. Os discursos são apresentados como uma propaganda televisiva, com imagens onde a platéia ri e aplaude para o que lhe é colocado. Mas é assim que funciona a sociedade contemporânea? Os estímulos são apresentados, o desejo de consumo é instalado e como na “Bullet Theory” todos se rendem e reagem automaticamente, como seres autômatos, ao que lhe é imposto?

Sim, todas as pessoas, desde o seu nascimento, são constantemente estimuladas a consumir e a entrar num sistema no qual é o ‘o que se tem e o que se consome’ que indica a sua posição. Mas, vale ressaltar que o consumo do qual ‘Surplus’ trata não é o consumo que propicie satisfação, é o consumo que precisa criar mais e mais necessidades. O exemplo que ilustra muito bem a necessidade de consumo que é criada e se instala é a cubana Tânia. Ela viajou para a Inglaterra, gosta de consumir e comer fast-food. O sistema em que ela está se inseriu, propiciou que ela se deslumbrasse pela realidade capitalista de que tudo é acessível e deve ser comprado.

Serialização e padronização associadas ao consumo também não ficam de fora em ‘Surplus’. Em determinado momento do vídeo, pode-se assistir à apresentação de bonecas eróticas serializadas e feitas ao gosto do cliente. Elaboradas com os mais modernos materiais, elas imitam um corpo real. Todas essas bonecas são produzidas com base nos padrões capitalistas de beleza, de corpo e fica claro que até o sexo está rendido às regras impostas por consumo que deve ser massificado.

Nesse contexto, podemos ilustrar com o que Vilém Flusser traz no livro O Mundo Codificado: “Certamente existem também relações ‘naturais’ entre os homens, como a relação entre a mãe e o lactante ou então uma relação sexual, e pode-se afirmar que essas seriam as formas de comunicação mais originais e fundamentais. Mas elas não caracterizam a comunicação humana, e são amplamente influenciadas pelos artifícios, são ‘influenciadas pela cultura.” O sexo, então, estaria condicionado pela cultura. E na sociedade capitalista e do consumo, bonecas eróticas e serializadas estão de acordo com a realidade compartilhada.

Gates declara que o computador serve para aproximar pessoas entrando em choque com o discurso de Zerzan: ele afirma que é uma peça para racionalizar, isolar e colocar a eficiência sobre a diversão. Nesse momento, discussões sobre a comunicação e o uso dos aparatos tecnológicos podem ser despertadas. A modernidade serve para estimular o afastamento e reduzir a proximidade. Mesmo que a comunicação seja improvável, busca-se por essa comunicação e uma necessidade de romper o isolamento. A tecnologia, aqui representada pelos computadores, então, propicia o maior isolamento ou permite que o constrangimento do afastamento seja reduzido?

Fazendo referência, novamente, às ideias expostas por Vilem Flusser pode-se dizer que é o fim das diferenças, mas também o fim das liberdades, como a de escolha por exemplo. Flusser diz no seu ‘Mundo Codificado’ que temos a ilusão de poder escolher, quando, na verdade, só escolhemos dentro de opções pré-estabelecidas. Como trazido em ‘Surplus’, a nossa liberdade é escolher entre as marcas A, B ou C.

Há, portanto, uma crise de fronteiras de todos os tipos com a globalização. A individualização versus a homogeneização. Qual o limite do Estado-Nação? Não existem mais fronteiras, sejam elas econômicas, políticas ou culturais. Houve uma quebra dos limites da geopolítica comum.

E o indivíduo? O que é? Hoje ele é bombardeado por informações que vem de todos os lados e acredita ter a liberdade de escolher. Mas, é preciso reforçar: o extremismo ideológico não adianta mais – a nossa Era é mais complexa.


Grupo 8

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1 Comments:

Blogger Unknown said...

Baixar o Documentário - Surplus - Aterrorizados Para Sermos Consumidores - http://goo.gl/qJVsN

March 14, 2013 at 8:44 AM  

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