Comentário sobre Surplus
O documentário exibido em sala, Surplus: Terrorized Into Being Consumers, tem alguns pontos bastante questionáveis.
1º : A defesa entusiasmada do vandalismo como forma de protesto e resistência popular frente às arbitrariedades e injustiças perpetradas pelos poderes político e econômico.
John Zerzan, um teórico anarquista que defende idéias insensatas com um risível tom de superioridade, parte do pressuposto equivocado de que só existe violência se ela for praticada contra um ser humano. Para ele, a destruição de bens materiais não é violência, mas sim uma maneira válida de se vingar da exploração das grandes corporações, do progresso tecnológico, da “opressora” sociedade industrial, do consumismo desenfreado etc. Em síntese, é uma visão estúpida e contraproducente porque ancorada na defesa da bárbarie como arma para combater os diversos tipos de violência e subjugação. Zerzan parece desconhecer os feitos e o legado de Gandhi. A retórica pacifista e inteligente, aliada à desobediência civil, trouxe e pode trazer resultados muito mais significativos. A violência enfraquece e, por vezes, anula a argumentação, atrai a aversão dos meios de comunicação e da opinião pública e, em última instância, gera efeitos contrários ao que se pretendia.
[...]
O filme é bastante radical em diversos aspectos evidenciados. A tecnologia não foge a essa abordagem extremista. O enredo coloca o desenvolvimento tecnológico como uma ferramenta que afasta um indivíduo do outro, visto que a ultrapassagem dos limites de espaço e de tempo, mascarada pela idéia de facilitar a comunicação, compromete o convívio entre as pessoas. Ou seja, as pessoas não mais se deslocam para poder se relacionar, pois existem meios para que haja troca de informações, sem necessariamente haver um contato direto.
Essa é uma visão que deve ser analisada, na medida em que as pessoas, de fato, estão perdendo a idéia de contato imediato para poder efetivar uma relação. Entretanto, ao superar os fatores espaço e tempo, as novas tecnologias também proporcionam maior significação de conteúdos, o que facilita a aproximação entre diversas pessoas nas variadas partes do mundo. Nosso contato com a informação é muito maior e a possibilidade de intercâmbio cultural é vasta, o que contrasta com a idéia de puro isolamento que o filme tenta passar.
[...]
Surplus traz uma visão demonizada e unilateral sobre o consumo. O documentário ignora todos os benefícios e avanços propiciados por um modelo capitalista de sociedade. Ignora, por exemplo, o valor social que os produtos possuem. Filmes ou livros “consumidos” são matéria-prima para conversas, reflexões e desenvolvimento de novas idéias. Eles permitem o surgimento de espaços e momentos de socialização, no qual as pessoas compartilham experiências utilizando o seu capital intelectual que é construído também através do consumo.
Outro aspecto positivo que se pode destacar na lógica capitalista de produção é o desenvolvimento das tecnologias e da ciência. O lucro é um dos combustíveis que estimulam as inovações em ambos. Há um ciclo, o consumidor compra o produto, gerando lucro para a empresa e possibilitando o surgimento e o avanço das tecnologias que futuramente irá comprar. Ao mesmo tempo em que as pessoas são submetidas a esse ciclo interminável de compra, as inovações trazem melhorias para a qualidade de vida e multiplicam as possibilidades de realização das mais diversas tarefas diárias.
[...]
Ao mesmo tempo que situa o consumismo como a grande mazela da humanidade a ser combatida, apresentando-o como elemento primordial de sustentação de um sistema nocivo à natureza e opressor das nações subdesenvolvidas, o vídeo sugere soluções extremas e, porque não dizer, levianas e excessivamente românticas. Os recortes e manipulações de áudio e som feitos nos discursos dos representantes das grandes corporações e dos países centrais, de um lado, e a aura paternalista e protetora do discurso de Fidel Castro, de outro, podem ser interpretados como uma tentativa de substituir toda a complexidade do assunto por um maniqueismo reducionista.
Essa concepção que contrapõe o demônio do consumismo, da tecnologia e da sociedade industrial ao deus do igualitarismo e da vida bucólica pré-industrial não contempla as contradições internas de cada um dos caminhos: ou se torna peça de uma engrenagem que existe por si só e objetiva se manter viva oferecendo prazeres efêmeros, ou se abre mão da diversidade em nome de uma coletividade homogênea e mediana.
Grupo 06
1º : A defesa entusiasmada do vandalismo como forma de protesto e resistência popular frente às arbitrariedades e injustiças perpetradas pelos poderes político e econômico.
John Zerzan, um teórico anarquista que defende idéias insensatas com um risível tom de superioridade, parte do pressuposto equivocado de que só existe violência se ela for praticada contra um ser humano. Para ele, a destruição de bens materiais não é violência, mas sim uma maneira válida de se vingar da exploração das grandes corporações, do progresso tecnológico, da “opressora” sociedade industrial, do consumismo desenfreado etc. Em síntese, é uma visão estúpida e contraproducente porque ancorada na defesa da bárbarie como arma para combater os diversos tipos de violência e subjugação. Zerzan parece desconhecer os feitos e o legado de Gandhi. A retórica pacifista e inteligente, aliada à desobediência civil, trouxe e pode trazer resultados muito mais significativos. A violência enfraquece e, por vezes, anula a argumentação, atrai a aversão dos meios de comunicação e da opinião pública e, em última instância, gera efeitos contrários ao que se pretendia.
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O filme é bastante radical em diversos aspectos evidenciados. A tecnologia não foge a essa abordagem extremista. O enredo coloca o desenvolvimento tecnológico como uma ferramenta que afasta um indivíduo do outro, visto que a ultrapassagem dos limites de espaço e de tempo, mascarada pela idéia de facilitar a comunicação, compromete o convívio entre as pessoas. Ou seja, as pessoas não mais se deslocam para poder se relacionar, pois existem meios para que haja troca de informações, sem necessariamente haver um contato direto.
Essa é uma visão que deve ser analisada, na medida em que as pessoas, de fato, estão perdendo a idéia de contato imediato para poder efetivar uma relação. Entretanto, ao superar os fatores espaço e tempo, as novas tecnologias também proporcionam maior significação de conteúdos, o que facilita a aproximação entre diversas pessoas nas variadas partes do mundo. Nosso contato com a informação é muito maior e a possibilidade de intercâmbio cultural é vasta, o que contrasta com a idéia de puro isolamento que o filme tenta passar.
[...]
Surplus traz uma visão demonizada e unilateral sobre o consumo. O documentário ignora todos os benefícios e avanços propiciados por um modelo capitalista de sociedade. Ignora, por exemplo, o valor social que os produtos possuem. Filmes ou livros “consumidos” são matéria-prima para conversas, reflexões e desenvolvimento de novas idéias. Eles permitem o surgimento de espaços e momentos de socialização, no qual as pessoas compartilham experiências utilizando o seu capital intelectual que é construído também através do consumo.
Outro aspecto positivo que se pode destacar na lógica capitalista de produção é o desenvolvimento das tecnologias e da ciência. O lucro é um dos combustíveis que estimulam as inovações em ambos. Há um ciclo, o consumidor compra o produto, gerando lucro para a empresa e possibilitando o surgimento e o avanço das tecnologias que futuramente irá comprar. Ao mesmo tempo em que as pessoas são submetidas a esse ciclo interminável de compra, as inovações trazem melhorias para a qualidade de vida e multiplicam as possibilidades de realização das mais diversas tarefas diárias.
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Ao mesmo tempo que situa o consumismo como a grande mazela da humanidade a ser combatida, apresentando-o como elemento primordial de sustentação de um sistema nocivo à natureza e opressor das nações subdesenvolvidas, o vídeo sugere soluções extremas e, porque não dizer, levianas e excessivamente românticas. Os recortes e manipulações de áudio e som feitos nos discursos dos representantes das grandes corporações e dos países centrais, de um lado, e a aura paternalista e protetora do discurso de Fidel Castro, de outro, podem ser interpretados como uma tentativa de substituir toda a complexidade do assunto por um maniqueismo reducionista.
Essa concepção que contrapõe o demônio do consumismo, da tecnologia e da sociedade industrial ao deus do igualitarismo e da vida bucólica pré-industrial não contempla as contradições internas de cada um dos caminhos: ou se torna peça de uma engrenagem que existe por si só e objetiva se manter viva oferecendo prazeres efêmeros, ou se abre mão da diversidade em nome de uma coletividade homogênea e mediana.
Grupo 06
Labels: Capitalismo, consumismo, surplus, tecnologia
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