Wednesday, May 27, 2009

Resenha - Surplus

O vídeo é bem irônico na forma de abordagem sobre o capitalismo, a emergência de novas tecnologias e a relação entre as pessoas e o consumismo como uma compulsão. Quanto mais se compra, mais se deseja consumir, e muitas vezes sem necessidade. As repetições e remixagens de certas falas, como as de John Zerzan, fazem com que algumas cenas sejam risíveis.

De início, o vídeo parece fazer apologia contra o capitalismo, colocando a fala de Zerzan, condenando o consumismo e acreditando que “a inércia de consumir tem que ser destruída”, já que a “vontade de consumir aterroriza”. No entanto, a idéia de Zerzan, de que é preciso voltar quase à idade da pedra para que os seres humanos perpetuem a espécie de maneira “adequada” é um tanto quanto extrema e impraticável para nossa realidade.

Outro momento do vídeo que passa essa impressão é quando é feita uma metáfora com propagandas televisivas de vendas de produtos, com a idéia de que as corporações querem dominar as pessoas, seres passivos diante da informação. Mas já é possível notar certa ironia com a forma como abordam esse pensamento frankfurtiano.

Surplus ironiza a maneira como Cuba vive com o socialismo através de uma senhora, achando que as necessidades básicas oferecidas são bastante democráticas, e a jovem Tania com seus deslumbres após a visita à Europa. A jovem é um retrato de que o problema do mundo não é, necessariamente, o consumo. A questão está na forma como este consumo está sendo distribuído entre as nações, e na exploração descontrolada dos bens materiais do planeta.

Em um dos momentos mais chocante do documentário são exibidas dezenas de “corpos” montáveis de bonecas e bonecos infláveis, produzidos de acordo com a especificação do consumidor, com o intento de ser o mais próximo possível do real, simulando, para quem pode pagar, a sensação de se estar fazendo sexo com uma pessoa, só que com a sua versão corporal idealizada de homem ou mulher.

Fica óbvio que esta é uma das formas de se criticar o consumismo desenfreado da nossa sociedade, mostrando que vivemos em uma sociedade onde o sexo e os corpos, inclusive os de plástico, são mercantilizados, tratados como objetos de consumo, como uma forma de sobrevivência e prosperidade financeira.

É também criticada no filme a noção de que o investimento em tecnologia começou, nos seus primeiros momentos, como uma forma de se otimizar o tempo que era consumido com o trabalho, para que se pudesse passar mais tempo com a família. Em “Surplus”, no entanto, deixa-se claro que o resultado final foi exatamente o oposto. A tecnologia, de acordo com o documentário, está criando mais barreiras, separando mais as pessoas, inclusive tornando-as atreladas ao trabalho por mais tempo do que antes, já que graças ao celular, e-mail e outras formas de comunicação, muitas vezes o trabalho é levado para dentro de casa.

Uma das melhores cenas do filme é o escândalo, ridículo, diga-se de passagem, do executivo da Microsoft gritando e pulando, quase enlouquecido ao dizer que ama o trabalho dele; tudo isto com o intento de despertar nas pessoas um sentimento de paixão e interesse pelo trabalho delas. O executivo que ganha milhares de dólares vai ter, sem nenhuma dúvida ou questionamento, mais ânimo do que o motorista de ônibus que passa horas no trânsito engarrafado e estressante das grandes cidades brasileiras. O exemplo é somente uma tentativa de aproximar o filme com o nosso dia-a-dia.

Grupo 4

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